Nos últimos dias eu tenho visto uma porrada de textos sobre a moda do desapego. A maioria criticando a frieza das pessoas. E comecei a pensar que às vezes o desapego (ou a máscara dele) pode ser apenas uma proteção. O que quero dizer é: nem todo mundo que diz não se apegar, não sentir, não se interessar, de fato não os faça.
Eu já conheci muita gente, e também já passei por muita coisa, para saber que nem sempre o que a gente diz é o que sentimos, e mais, muitas vezes fazemos e dizemos coisas para esconder outras. Por trás dessa onda de desapego, de pega e não se apega, de fere e sai correndo, de não ligar, não ir atrás, existe apenas uma coisa: medo. De não ser aceito, de ser mal interpretado, de se machucar, de se frustrar. Medo.
Parece bobagem, e eu já vi muita gente dizendo: deixa esse medo bobo pra lá. Mas não é tão simples assim. O medo nunca vem sozinho ou do nada. Alguma situação fez com que ele se instalasse ali. Ou ele vem através de duas coisas, experiências que outras pessoas contam, e nossas próprias experiências. No meu caso, por exemplo, já passei por muitas situações onde eu me machuquei por me entregar demais a algo, naturalmente, eu desenvolvi uma espécie de proteção para não me machucar de novo. Então, se antes eu me entregava de cara, agora isso demora um tempo maior para acontecer. Porque eu tenho medo de me machucar novamente.
E talvez essa seja a situação das pessoas, elas estão com tanto medo que propagam esse desapego para não se colocarem na linha de frente. Medo de se apegar demais e depois sofrer. Não falo só em questão de relacionamento amoroso, mas amizades também, relações familiares. O que rola muito é a teoria do ‘ah, não vou me importar muito para depois não dar com a cara na parede’, em outras palavras, ‘não vou criar expectativas, porque depois se der errado, eu não estava esperando nada mesmo’. Em alguns momentos isso pode até soar com uma coisa boa, mas no fundo não é, porque você deixou de viver algo por medo.
É que nem quando você tem muita vontade de ir em uma montanha russa e deixa de ir por medo. Na sua cabeça, você vai ficar imaginando como seria e a vontade nunca vai sumir. Até que você vá. Dá medo? Dá. Muito. Mas você pode começar com uma montanha russa menor e depois ir para a que dá um looping. Da mesma forma com as nossas expectativas a respeito de algo, você pode começar aos poucos e ir subindo de nível depois. Se apega aos poucos. Demonstra aos poucos. Se você tem medo, não precisa se jogar na montanha mais radical de uma vez, vai por níveis. Mas não deixa de viver por medo. Porque às vezes o que você está perdendo é muito maior do que o medo.
Se apegue, mesmo com medo. Crie expectativas, mesmo com medo. Todo mundo tem medo de se frustrar, só que algumas pessoas seguem em frente mesmo com medo. Elas não puxam o freio de mão com tudo. Elas vão indo. E se der errado,paciência. A vida continua e você vai conseguir derrotar o medo de novo, de novo e de novo. Por mais que ele te assombre, te diga que você não pode se machucar de novo, você sempre pode escolher derrotar ele e arriscar.

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