O gênero que cada vez mais ganha
espaço nas prateleiras de livrarias
Quem nunca chorou ou deu risada ao ler alguma cena de um livro
qualquer? Ou quem nunca teve os sentimentos em turbulência por conta da burrada
de algum personagem, ou porque o desfecho esperado finalmente aconteceu?
Histórias de descobertas, romances, amizades, lutas internas e situações
cotidianas sem dúvida atraem o leitor. O que todas elas, normalmente, têm em
comum é o fato de pertencerem ao mesmo gênero: a ficção.
Ficções são obras criadas a partir da imaginação, elas podem ser
literárias, teatrais, cinematográficas. De acordo com Salvatore D’Onófrio “O
fictício não significa falso, mas historicamente inexistente”.Então, histórias
fictícias não são falsas, apenas não existem no mundo real, somente na
imaginação do leitor e do autor. O estilo é marcado principalmente pela
narrativa, caracterizada por diálogos entre personagens e seus relacionamentos.
Em contrapartida ao que muitos pensam, a ficção literária é surpreendentemente
humanizada e provoca profunda empatia no leitor que, ao se identificar com os
personagens, em algumas situações, acaba por refletir sobre as próprias
atitudes diante da condição que se encontra. Publicada em 2013 na revista "Science", o estudo
de dois pesquisadores, da The New School, em Nova York, revelou que ler obras
de ficção aperfeiçoa a capacidade intelectual de discernir os pensamentos e
emoções das pessoas ao redor. Ou seja, ler ficção melhora as habilidades
sociais de alguém, pois se passa a compreender melhor os sentimentos alheios e,
assim, oferecer reação adequada.
A ficção literária também foi tema de uma pesquisa do Instituto
Pró Livro. No estudo, a entidade constatou que ao serem perguntados sobre o
livro que mais marcou suas vidas, em sua maioria, os leitores responderam obras
de ficção. O gênero leva o leitor a questionar não só a sociedade, mas também a
si mesmo, levantando então questionamentos em partes de nós que estão
calejadas, seja preguiça, desatenção, ignorância ou pecado.
Existe Ficção Cristã?
Existe! Ficção Cristã é uma historia de ficção criada com enredo
moralmente cristão que deve transmitir valores e princípios bíblicos ao leitor.
De acordo com a pastora e escritora cristã, Renata Martins, autora da série A Ovelha e o Dragão, a ficção
cristã não difere muito das outras. “São histórias criadas (e aí podemos abusar
da criatividade), porém o grande diferencial fica por conta dos princípios
bíblicos, cristãos. Falam sobre o amor puro (bíblico), relatam experiências com
o mundo espiritual, enfim, falamos sobre a palavra de Deus de um modo criativo,
permitindo ao leitor que ele conheça de forma mais envolvente esse mundo
espiritual que muitas vezes para ele é desconhecido.” A escritora Lycia Barros,
autora da série Despertar,
acrescenta ainda que “Para escrever ficção cristã não basta o autor ser
cristão, este tipo de ficção só poder ser assim denominada quando Deus está no
centro da história. Do contrário, é apenas um escritor cristão, não um autor de
ficção cristã”.
O título mais famoso do estilo é Amor
de Redenção, da escritora americana Francine Rivers. No Brasil, não se sabe
ao certo quando o gênero foi descoberto, mas já existem vários títulos
nacionais, o que é ótimo para o público daqui, pois a literatura deve ser
sempre uma fonte de inspiração. No entanto, mesmo levando o título de “cristão”
é necessário filtrar o que será lido. “Creio que devemos ser seletivos com
aquilo que lemos para ter certeza de que o tempo investido na leitura será
produtivo para nós. E creio que isso sempre acontece quando lemos algo que
edifica a nossa vida espiritual. Hoje, temos muita frivolidade sendo publicada,
infelizmente. Mas, também temos muita coisa boa, basta procurar”, explica
Lycia.
Então, nenhuma obra de ficção cristã deve ser tomada como verdade
absoluta. A única verdade absoluta é a que está na Bíblia, por mais que um
livro seja baseado na Palavra. Renata esclarece que “A característica principal
da ficção é justamente ser uma história inventada”, mas garante que em seus
livros sempre procura ser o mais fiel possível às escrituras. A escritora Dani
Nuevo, autora da série A fonte
do Poder, afirma que nenhum livro, por melhor que seja, substitui a Palavra
de Deus, por isso ela conta que para todo escritor “conhecer a verdade é um
desafio para escrever a verdade. Portanto o maior desafio é praticar para
falar. Viver e então se atrever a escrever”.
Sendo assim, Lycia conta que “Por mais que o autor se baseie na
Palavra de Deus para montar os princípios do livro, esta é a visão pessoal do
autor sobre as escrituras. Por isso é sempre importante pedir a direção do
Espírito Santo enquanto estou escrevendo”. Desse modo, só é possível afirmar
que algo edifica se estiver alicerçado na Bíblia “do contrário são apenas
palavras, boas ou más”, declara Dani.
Além do chamado para escrever sobre o gênero, é necessário ter
aptidão para tal. Renata Martins diz que o que a despertou foi a falta de obras
que estivessem de acordo com seus princípios. “Antes não encontrava histórias
românticas e que fossem santas o suficiente. Quase todas continham feitiçaria
ou um contexto sexual forte... E aí o Espírito Santo me despertou o desejo para
que eu mesma escrevesse algo que eu adoraria ler e me edificaria. Sendo assim A
ovelha e o Dragão nasceu!”. Ela descreve ainda dois passos para a criação de
uma história cristã: “Primeiro: sentir de Deus o desejo para escrever uma nova
história. Segundo: orar muito e pedir a ele direção para que a história nasça e
os personagens se desenvolvam. Para mim a oração e a busca pela direção de Deus
são imprescindíveis para que as histórias surjam”.
Embora seja um gênero em sutil ascensão no Brasil, ainda há muito
a ser feito, principalmente por parte de editoras cristãs. “As editoras cristãs
não investem em ficção cristã. E os próprios cristãos muitas vezes não
valorizam este tipo de literatura por estarem mais habituados a ler livros de
autoajuda. Isso prejudica a propagação maior do trabalho” finaliza Lycia.
Por que ler Ficção Cristã?
Existem cristãos que defendem energicamente a não leitura do
gênero, pois consideram toda obra de ficção uma mentira. Contudo, há uma coisa
que precisa ser lembrada: Jesus foi um grande contador de ficção. Ele criava,
ou seja, imaginava, inventava histórias para poder ilustrar uma lição de moral.
Exemplos? As parábolas do filho pródigo, das dez virgens, da ovelha perdida, do
bom samaritano, da casa sobre a rocha e tantas outras. Por diversas vezes,
multidões o ouviam enquanto Ele contava alguma história para dar exemplo de
alguma situação, e assim ensinava sobe Salvação, perdão, amor e outros valores.
Para Dani Nuevo, a obra de ficção cristã pode ser uma ferramenta
poderosa. “Temos a tendência de mergulhar naquilo que nossos olhos contemplam.
Ativamos nossos sentidos quando lemos. Rimos, choramos, refletimos. Portanto,
se você ler algo bom, estará enchendo seu coração e sua mente de coisas boas. O
contrário também é válido”, diz. Caso você sinta que esse é o seu chamado, a
autora explica alguns pontos. “Primeiro ore e descubra se Deus te chamou para
isso. Fazer algo por modismo ou para se tornar importante, ou até pensando numa
carreira profissional é furada! Lembre-se: na hora da tempestade, o barco só
não afunda se Jesus estiver ali! Inspire-se! Como? Leia Felipenses 4.8 e pratique!
Comece inventando pequenas histórias para os amigos lerem. Eles serão sinceros
sem te magoar.”.
Identificar uma história da categoria é fácil, basta se enquadrar
em alguns aspectos, como incluir o contraste entre atributos humanos negativos
(pecado, mal, transgressão etc) e positivos (redenção, esperança,
arrependimento, coragem, amor, etc). Além de abrir a mente para o aprendizado e
agregar cultura, a ficção cristã é um entretenimento sadio para o jovem
contemporâneo.

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