Entenda o que realmente significa estar de cada lado da política
Com o cenário político brasileiro em evidência, as ideologias e doutrinas políticas têm se destacado cada vez mais nas ruas e na boca do povo. Isso é bom e é ruim. Bom porque muita gente, muita gente mesmo, que não tinha o menor interesse em política tem se empenhado em entender o assunto. Ruim porque muita gente, muita gente mesmo, tem feito uma confusão danada na hora de definir esquerda, direita, fascista, comunista e por aí vai.
O Brasil tem assistido pessoas acusarem umas as outras de serem isso ou serem aquilo sem terem a menor ideia do que realmente estão falando e, quando perguntadas sobre o significado do que acabaram de dizer, a resposta é, muitas vezes, evasiva ou inconclusiva. Esse tipo de situação torna questionável se existe ou não uma alienação e se realmente os brasileiros estão se informando ou simplesmente seguindo a moda.
O especialista em direito eleitoral, Dr. José Ricardo Ramalho, explica essas duas divisões ideológicas entre esquerda e direita. “O uso político desses termos teve origem na Revolução Francesa, pois os liberais girondinos se sentavam à direita e os extremistas jacobinos se sentavam à esquerda no salão do Parlamento Francês. Ao analisarmos os grupos da Revolução Francesa, percebe-se também que os direitistas pregavam uma revolução liberal, a abolição dos privilégios da nobreza e estabeleceram o direito de igualdade perante a lei. Os esquerdistas também defendiam o fim dos privilégios para nobreza e clero, mas eram favoráveis a um regime centralizador. Portanto, em regra, a direita apoia um regime com menor intervenção do Estado, próximo ao que pregam os liberalistas, com mínima intervenção. Já a esquerda propõe que o Estado deve ser centralizador, concentrando diversas funções”, esclarece Dr. José Ricardo.
Tanto os que sentavam à direita quanto os que sentavam à esquerda concordavam que deveria haver uma mudança no sistema político. Porém, apesar de estarem em acordo sobre a necessidade de mudança, os pensadores divergiam entre si quanto às propostas de mudança que cada um apresentava, afinal cada um enxergava a sociedade de maneira diferente do outro, então, mesmo com ideias diferentes, existiam aquelas que se assemelhavam e foram dividas entre esses dois grupos que conhece-se hoje: esquerda e direita.
Dizer que o movimento de direita se caracteriza por ser elitista é tão errado quanto dizer que o movimento de esquerda se caracteriza por defender somente a igualdade social. Uma vez que, por definição, todo governo é elitista, pois em todos há uma elite de políticos que têm seus salários garantidos, não passam fome, não vão às guerras etc, uma elite que é formada por políticos que nem em sonho passam o que o povo passa, seja governo de esquerda ou de direita. Portanto, não faz sentido lógico dizer que a direita defende o posicionamento elitista e que a esquerda é o posicionamento que ataca o mesmo. De acordo com o filósofo político Noberto Bobbio, hoje os dois lados lutam por reformas, mas a esquerda busca a justiça social e a direita, a liberdade individual.
Em publicação no Diário do Comércio, em 2011, o renomado pensador Olavo de Carvalho traz a perfeita definição:
“Normalidade
democrática é a concorrência efetiva, livre, aberta, legal e ordenada
de duas ideologias que pretendem representar os melhores interesses da
população: de um lado, a “esquerda”, que favorece o controle estatal da
economia e a interferência ativa do governo em todos os setores da vida
social, colocando o ideal igualitário acima de outras considerações de
ordem moral, cultural, patriótica ou religiosa. De outro, a “direita”,
que favorece a liberdade de mercado, defende os direitos individuais e
os poderes sociais intermediários contra a intervenção do Estado e
coloca o patriotismo e os valores religiosos e culturais tradicionais
acima de quaisquer projetos de reforma da sociedade.
(...)
Nas beiradas do quadro legítimo, florescendo em zonas fronteiriças
entre a política e o crime, há os “extremismos” de parte a parte: a
extrema esquerda prega a submissão integral da sociedade a uma ideologia
revolucionária personificada num Partido-Estado, a extinção completa
dos valores morais e religiosos tradicionais, o igualitarismo forçado
por meio da intervenção fiscal, judiciária e policial. A extrema direita
propõe a criminalização de toda a esquerda, a imposição da uniformidade
moral e religiosa sob a bandeira de valores tradicionais, a
transmutação de toda a sociedade numa militância patriótica obediente e
disciplinada.
Não
é o apelo à violência que define, ostensivamente e em primeira
instância, os dois extremismos: tanto um quanto o outro admitem alternar
os meios violentos e pacíficos de luta conforme as exigências do
momento, submetendo a frias considerações de mera oportunidade, com
notável amoralismo e não sem uma ponta de orgulho maquiavélico, a
escolha entre o morticínio e a sedução. Isso permite que forjem
alianças, alternadamente ou ao mesmo tempo, com gangues de delinquentes e
com os partidos legítimos, às vezes desfrutando gostosamente de uma
espécie de direito ao crime”.
MOVIMENTOS DE DIREITA
Conservadorismo: Pode-se entender o conservadorismo como a defesa da manutenção da ordem política, ou social, existente, em contraposição aos que buscam inovação e às mudanças que são fruto de revoluções. Surgiu primeiramente como uma reação ao Iluminismo, colocando a fé sobre a razão. Entre as principais características desse pensamento estão: atitude negativa em relação à mudança social, visão desesperançada e pessimista da natureza humana e fé na correção moral e política de atitudes e crenças. Para os conservadores, a implantação de mudanças deveria ser mínima e gradual, além de partir de ideais realistas e não idealistas.
Democratas-cristãos: Para democratas cristãos, a democracia deve ser entendida à luz da filosofia cristã. Defende princípios como a liberdade, a solidariedade e a justiça. Ela é democrática na medida em que desde a sua origem, aderiu sinceramente aos ideais da democracia pluralista do tipo ocidental. E é cristã porque representa uma tentativa permanente de defesa e aplicação dos princípios e valores cristãos na vida política nacional e internacional. Tal como os outros grandes movimentos políticos, as prioridades e políticas postos em prática pelos partidos democratas cristãos podem variar consideravelmente em diferentes países e em diferentes tempos.
Liberais e nacionalistas: O Liberalismo é o movimento político em favor da liberdade dos indivíduos, e o Nacionalismo é o movimento político em favor da liberdade e da autonomia dos povos, do direito de criarem seus próprios estados. Os liberais defendem em primeiro lugar as liberdades individuais: a liberdade de discordar do governo, de protestar, etc. Os nacionalistas defendem a preservação da nação enquanto entidade, por vezes na defesa de território delineado por fronteiras terrestres, mas, acima de tudo nos campos linguístico, cultural, etc., contra processos de destruição identitária ou transformação. A partir do século XX houve o surgimento do Neoliberalismo cujas ideias se assemelham ao Liberalismo mas ainda pregam a intervenção mínima do Estado na economia, política de privatizações e abertura econômica.
Nazismo (extrema direita): As características principais do nazismo, enquanto ideologia instituída no poder, derivaram-se das ideias de Hitler desenvolvidas no período da prisão. Hitler acreditava que a raça ariana era superior a todas as outras, e os homens e mulheres deveriam lutar pela pureza dessa raça. Obviamente, com a forte presença de judeus, essa pureza poderia estar em risco, e por isso, essas raças inferiores deveriam ser eliminadas. Para manter a pureza da raça ariana, os negros, poloneses, homossexuais, comunistas, ciganos, deficientes físicos e mentais também deveriam ser eliminados, só assim, a raça atingiria a perfeição. A religião também foi uma das áreas afetadas pelas ideologias do nazismo. Não poderiam ser aceitos cultos religiosos que não fosse o catolicismo. Ateus, protestantes e praticantes de cultos africanos ou orientais, foram combatidos com o mesmo ódio que Hitler dispensou aos judeus.
Fascismo (extrema direita): O Fascismo foi um sistema político nacionalista, imperialista, antiliberal, antidemocrático e antissocialista, liderado por Benito Mussolini. O fascismo vê a violência política, a guerra, e o imperialismo como meios para alcançar o rejuvenescimento nacional e afirma que as nações e raças consideradas superiores devem obter espaço deslocando ou eliminando aquelas consideradas fracas ou inferiores, como no caso da prática fascista modelada pelo nazismo. Embora tenha entrado em crise após a Segunda Guerra Mundial, alguns aspectos da ideologia fascista ainda estão presentes em alguns grupos e partidos políticos. Na Europa, por exemplo, existem partidos políticos que defendem plataformas baseadas na xenofobia (aversão a estrangeiros).
MOVIMENTOS DE ESQUERDA
Progressistas: O termo Progressista é utilizado para designar aqueles que são favoráveis a mudanças mesmo com prejuízo da conservação da tradição e das leis. O progressista não é um radical pelas mudanças, e de fato, as busca com alguma prudência. Entretanto, o progressista está disposto a colocar em risco a tradição por entender que as mudanças são mais importantes do que manter o que existe. O progressismo também pode ser vinculado a posições político-filosóficas ligadas ao reformismo e opostas ao conservadorismo. Contemporaneamente, o progressismo também tem sido associado à luta por direitos civis e individuais, bem como a movimentos sociais, como o feminismo, o ambientalismo, o secularismo, o movimento LGBT (diversidade sexual) e o movimento negro, entre outros.
Socialismo: Diferentemente do que ocorre no capitalismo, onde as desigualdades sociais são imensas, o socialismo é um modo de organização social no qual existe uma distribuição equilibrada de riquezas e propriedades, com a finalidade de proporcionar a todos um modo de vida mais justo. A maioria dos socialistas possuem a opinião de que o capitalismo concentra injustamente a riqueza e o poder nas mãos de um pequeno segmento da sociedade - denominado por Karl Marx de Burguesia - que controla o capital e deriva a sua riqueza através da exploração, criando uma sociedade desigual, que não oferece oportunidades iguais para todos a fim de maximizar suas potencialidades.
Comunismo: O comunismo pode ser definido como uma doutrina ou ideologia (propostas sociais, políticas e econômicas) que visa a criação de uma sociedade sem classes sociais. De acordo com esta ideologia, os meios de produção (fábricas, fazendas, minas, etc) deixariam de ser privados, tornando-se públicos. No campo político, a ideologia comunista defende a ausência do Estado. O comunismo contemporâneo pretende preservar e superar todo progresso tecnológico, conquistado através do capitalismo, mediante um sistema de planejamento geral, no qual as múltiplas decisões, tomadas de acordo com o mecanismo de mercado no capitalismo, sejam adotadas de forma deliberada segundo critérios que permitam maximizar a satisfação das necessidades de toda a sociedade.
Anarquismo (extrema esquerda): Anarquismo é uma ideologia política que se opõe à todo tipo de hierarquia e dominação política, econômica, social e cultural, incluindo o Estado, o capitalismo, as instituições religiosas, o racismo e o patriarcado. O anarquismo é contrário a existência de governo, polícia, casamento, escola tradicional e qualquer tipo de instituição que envolva relação de autoridade. Defendem também o fim do sistema capitalista, da propriedade privada e do Estado. Os anarquistas defendem uma sociedade baseada na liberdade dos indivíduos, solidariedade (apoio mútuo), coexistência harmoniosa, propriedade coletiva, autodisciplina, responsabilidade (individual e coletiva) e forma de governo baseada na autogestão.

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