#ThingsOnlyChristianWomenHear, ou #CoisasQueSomenteMulheresCristãsOuvem, mostrou que até mesmo dentro dos templos tem espaço para o sexismo
Autora: Stephanie Long
Tradução: Nara Lima
No dia 18 de abril, a escritora Sarah Bessey, começou uma conversa no Twitter usando a hashtag #ThingsOnlyChristianWomenHear (#CoisasQueSomenteMulheresCristasOuvem) e a coisa tomou proporções inesperadas. Na manhã seguinte, era um dos assuntos mais comentados da plataforma. Ainda hoje há mulheres compartilhando suas experiências. #ThingsOnlyChristianWomenHear dá uma voz às nossas experiências, muitas vezes silenciadas de misoginia, abuso, sexismo e cultura do estupro na Igreja, e destaca maneiras que pessoas usaram de distorcer a Bíblia para justificar essas coisas e nos manter caladas. O debate vai muito além de discutir complementaridade ou igualdade de homens e mulheres dentro da igreja, mas é um modo de compartilhar como somos feridas e prejudicadas por certas teorias distorcidas, divulgadas e propagadas por muitas igrejas.
Sobre a objetificação dos nossos 'corpos perigosos'
Nós somos ensinadas que nossos corpos são objetos sexuais perigosos e nós devemos proteger os homens porque eles não podem se controlar. Isso não só induz a vergonha de nossos próprios corpos como também podem mexer com nossa identidade e com nossas vidas sexuais quando esposas.
"'Homens olharão para você e serão tentados e pecarão'. Nós dizemos isso para garotas de 12 anos. Eu vivi envergonhada até os meus 20"."Men will look at you and be tempted and sin." We say this to 12 year old girls. I was ashamed until my 20s. #ThingsOnlyChristianWomenHear— taylor schumann (@taylorsschumann) 19 de abril de 2017
"Garotos, vamos falar sobre pornografia para guardar a alma de vocês. Garotas, vamos falar sobre modestia para guardar a alma dos garotos""Boys, let's talk about pornography to guard your souls. Girls, lets talk about modesty to guard boys' souls." #thingsOnlyChristianWomenHear— Andrea (@Monker4444) 29 de abril de 2017
Sobre abuso e estupro na igreja
Além da objetificação, as mulheres compartilharam experiências de abuso e estupro - incluindo estupro marital - sendo ignoradas ou mesmo justificadas pela Igreja.
"Embora esse tenha sido para o meu marido, era sobre mim. Pt 1: 'Pegue ela pela mão e leve para o quarto e não..."Although this one was to my husband, it was about me so Pt.1 #ThingsOnlyChristianWomenHear "Take her by the hand to the bedroom and don't...— Tabitha Wells (@Tabitha_Writes) 19 de abril de 2017
"Pt 2 ... deixe que ela diga não. Diga a ela que fará sexo com ela, querendo ela ou não".Pt.2 ...let her say no. Just tell her sex is happening whether she wants it or not." #ThingsOnlyChristianWomenHear— Tabitha Wells (@Tabitha_Writes) 19 de abril de 2017
Sobre os papéis e a identidade das mulheres
As mulheres compartilharam histórias de terem recebido responsabilidades de liderança, mas não foram chamadas pelo título simplesmente por serem mulheres, ou ainda pior, falaram sobre não terem recebido oportunidades de usar nossos dons espirituais dados por Deus. Nos é falado que o principal propósito de existirmos é ser uma esposa e uma mãe.
"A pastora de crianças se aposenta depois de 20 anos: 'Inicialmente não tínhamos certeza que ela poderia ser uma pastora porque ela é mulher'"Kids pastor retires after 20 yrs "Orignially we weren't sure if she could be a pastor because she's a woman." #ThingsOnlyChristianWomenHear— Hannah Foulger (@alittlespaced) 1 de maio de 2017
"Você não quer filhos? Por que não? Você foi criada por Deus para ser uma mãe""You don't want children?! Why not? You were created to be a Godly mother."#ThingsOnlyChristianWomenHear— Jesse Harp (@jesseharp19) 19 de abril de 2017
Racismo e sexismo
Além do sexismo, as mulheres negras experimentam outro nível de dor na Igreja. Então #ThingsOnlyChristianWomenHear levou a #ThingsOnlyBlackChristianWomenHear (#CoisasQueSomenteMulheresCristasNegrasOuvem). Precisamos ouvir suas experiências.
"Apagam as mulheres negras da história da igreja, exceto quando a posição delas está ligada a algum homem dentro da igreja. (Ex.: esposa de pastor)"Erasing BW from church histories except for their position to a man within the church (ex. pastor's wife) #ThingsOnlyBlackChristianWomenHear— Joan Nicole (@joan_nicole) 22 de abril de 2017
"Um homem negro desarmado morre: silêncio. Aborto, soldados que voltaram da guerra e gays: raiva e grupos de oração emergenciais"Unarmed black man dies— Rose-Ingrid (@GraceDefined) 22 de abril de 2017
*silence*
Abortion, veterans, gay people
*outrage emergency prayer meeting* SIGH #ThingsOnlyBlackChristianWomenHear
A resposta
As respostas às hashtags variaram de apoio, "eu também", a argumentos teológicos sobre porque as mulheres estão erradas, acusações de que não são cristãs, ataques pessoais. Houve até quem disse às mulheres para calarem as bocas porque elas estão fazendo a Igreja parecer má.
As pessoas tiraram versículos bíblicos de contexto para provar que estávamos erradas e tentar nos silenciar. As pessoas disseram que as mulheres muçulmanas experimentam pior. As pessoas nos chamavam de mentirosas. E, claro, eles disseram que nem todas as igrejas são assim. Muitas das respostas que tentaram encerrar o assunto provaram com seus argumentos o quão importante é essa conversa.
Mesmo se você for 100% complementarista (teoria que diz que homens e mulheres são apenas complementares e não iguais perante Deus) e não quer examinar uma visão alternativa a respeito disso, você ainda pode ouvir e defender as mulheres do abuso. Você ainda pode falar quando sua teologia, a Palavra de Deus, estiver sendo usada para prejudicar as mulheres. Afinal, a Bíblia ensina que devemos ser protegidas e cuidadas, não é?
E se sua igreja não é assim e nunca te disseram nenhuma dessas coisas, eu estou genuinamente feliz por você. Por favor, não diminua nossas experiências. Na verdade, por favor, ouça-nos e use a sua voz para nos ajudar a lutar contra isso.
4 MANEIRAS DE RESPONDER A #THINGSONLYCHRISTIANWOMENHEAR
Eu escolhi compartilhar minhas experiências de #ThingsOnlyChristianWomenHear para expressar minha empatia e o meu trabalho em favor da mudança. Queremos que todas as mulheres possam vir à igreja e encontrar Jesus. Jesus não é misógino, abusivo ou sexista. Assim, qualquer interpretação das Escrituras que promova a misoginia, o abuso, o sexismo ou a cultura do estupro não pode ser o verdadeiro significado dessa Escritura. Jesus não pode ser quem Ele não é. E quando nossas palavras, ações e regras causam danos às mulheres, não estamos apresentando Jesus como Ele realmente é. Jesus fez mais para valorizar as mulheres do que ninguém jamais foi capaz. É hora de os cristãos pararem de usá-Lo para nos rebaixar e nos magoar.
Se você quer ser parte da solução e ajudar a mover a Igreja para um tratamento mais honroso para as mulheres, aqui está como você pode ajudar:
1. ESCUTE: Para que possamos seguir em frente é necessário entendermos onde estamos. A primeira coisa que a Igreja (e as pessoas) precisa fazer é ouvir as mulheres que estão compartilhando essas histórias. Não suponha que você saiba como as mulheres experimentam a vida em sua igreja. Leia a hashtag. Mas o mais importante: fale com as mulheres cristãs em sua vida. Pergunte às mulheres em sua igreja. Então ouça. Não discuta. Não bote versos da Bíblia. Basta ouvir e tentar entender.
2. EXAMINE SUAS PALAVRAS E AÇÕES: Mudar uma cultura começa com nós mesmos. Antes de podermos abordar as questões da misoginia, do abuso e do sexismo na Igreja como um todo, precisamos nos examinar. Será que com minhas palavras e ações eu estou explicitamente ou implicitamente contribuindo para que essas coisas aconteçam? Mais ainda, será que o que eu deixo de fazer ou falar pode contribuir para perpetuar essa cultura distorcida? Isso se aplica também às mulheres. Às vezes, somos tão culpados de perpetuar essa cultura quanto os homens. Eu sei que fui culpada disso em algum momento.
Uma vez que examinamos a nós mesmos, é hora de nos arrepender e mudar qualquer coisa que esteja prejudicando alguém em nossas igrejas ou comunidades.
3. EXAMINE SUA TEOLOGIA: Este é um passo difícil, mas necessário. Se a nossa teologia está prejudicando as mulheres, é hora de olhar com cuidado, porque provavelmente não é de Jesus. Cheguei a um ponto em que percebi que algumas coisas que me ensinavam não se alinhavam com quem eu sabia que Jesus era. Então eu decidi ler a Bíblia inteira, capa a capa, para mim, em vez de apenas acreditar no que me foi dito. Eu aprendi que é incrivelmente fácil tirar um versículo ou dois fora de contexto e construir uma doutrina em torno dele. Mas quando lemos a história completa das Escrituras, temos uma imagem diferente. Também é vital compreender o gênero e o contexto de cada livro da Bíblia.
Aprendi também que Jesus quer que o conheçamos e conheçamos a verdade.
Quando estamos estudando, é importante procurar interpretações confiáveis e mais consistentes das Escrituras que considerem o contexto, bem como a audiência e o significado originais. Quando lemos a Bíblia, oramos com coração aberto e mente, e estudamos fora de nossas câmaras de eco, podemos nos surpreender com o que Jesus nos revela.
4. COMECE A FALAR SOBRE ISSO: Reflexão pessoal e arrependimento é fundamental, mas se quisermos ver mudanças que beneficiam as mulheres em nossas vidas e no mundo, não podemos parar por aí. Precisamos falar quando testemunhamos o dano que está sendo feito ou quando percebemos que mentiras estão sendo espalhadas. Não podemos permitir que a misoginia, o abuso, o sexismo e a cultura de estupro existam em nossas igrejas. Temos a responsabilidade de nos posicionarmos contra ela e lutarmos pelas mulheres.
E também precisamos falar sobre vida e verdade, sobre o que Jesus realmente diz sobre as mulheres.
#ThingsOnlyChristianWomenHear é como uma luz em áreas escuras da igreja. É hora de ouvir e agir.
***Este texto foi traduzido e adaptado a partir do artigo "What #ThingsOnlyChristianWomenHear showed about the strugle of women in the Church", publicado na RELEVANT Magazine e escrito por Stephanie Long.
***Este texto foi traduzido e adaptado a partir do artigo "What #ThingsOnlyChristianWomenHear showed about the strugle of women in the Church", publicado na RELEVANT Magazine e escrito por Stephanie Long.


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